Cabos submarinos ameaçados pela Rússia e pela China?
- Ruy Cézar Campos
- há 20 horas
- 2 min de leitura
Nos últimos meses (para não dizer nos últimos anos), tem aparecido constantemente na mídia narrativas de rompimento ou de temor de rompimento de cabos submarinos causadas pela Rússia ou pela China. O assunto foi pauta na Globonews há três semanas, bem como em diversas páginas de notícia no Brasil.




Ainda que o contexto geopolítico mundial seja tenso no que concerne as relações entre o ocidente, a Rússia e a China, a probabilidade maior é de que essas notícias sejam um alarmismo desnecessário.
No que concerne a tecnologia chinesa alarmada como destruidora de cabos submarinos, a princípio tudo aponta que seja apenas uma versão chinesa de uma tecnologia comum na indústria, um tipo de garatéia. Como colocado por Tim Stronge do Telegeography, "As garatéias há muito tempo são um recurso básico da indústria — não para danificar cabos, mas para repará-los. Quando um cabo é cortado ao meio, as garatéias podem agarrar cada extremidade e içá-las até a superfície. Uma vez a bordo, elas podem ser reconectadas (ou “emendadas”)." Aparentemente, a patente chinesa não apresenta nada de novo na indústria, apenas indica o esforço da China de ter mais autonomia no que concerne a geopolítica dos cabos submarinos.
No caso da Rússia, o alarmismo recente da mídia ocidental em torno de possíveis sabotagens russas a cabos submarinos se insere em uma tradição mais ampla de construção narrativa que remonta à Guerra Fria. Conforme Nicole Starosielski argumenta em The Undersea Network, as infraestruturas de comunicação – embora invisíveis para a maioria – tornam-se repentinamente visíveis e politicamente significativas nos momentos de crise ou disrupção.
Historicamente, durante a Guerra Fria, redes de comunicação foram retratadas como pontos frágeis da ordem global, com sua destruição potencial evocando colapsos sistêmicos. Essa lógica permanece ativa no imaginário atual: a simples possibilidade de sabotagem a cabos é apresentada como ameaça existencial à economia digital, ainda que a própria indústria esteja acostumada a lidar com falhas frequentes (cerca de 200 por ano) e possua protocolos de resposta altamente eficientes.
Starosielski também mostra que a invisibilidade das infraestruturas reforça sua aura de mistério e vulnerabilidade – uma característica que a mídia explora com facilidade para produzir pânico, especialmente em contextos de tensão internacional. Assim, o alarmismo não reflete tanto uma realidade técnica ou operacional, mas sim uma estratégia discursiva de securitização, onde ameaças difusas (como "o inimigo invisível") justificam vigilância e controle mais intensos.
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